quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
Máquina de ler
Compramos um tablete pequenino.
Botei um livrinho lá. O meu. Tenho o pdf, eu diagramei.
E li. E fui lendo. E a tela fica parecendo uma página de papel. Li igual. Estava lendo um livro. Sem tirar nem pôr. Com o mesmo prazer (ou o mesmo desprazer de ler o próprio livro). A mesma concentração (ou desconcentração, depende do conteúdo).
A luz é clara? É nada. Até dispensa a lâmpada de cabeceira.
Vai cansar? Vai nada. Nunca passamos diante de um livro o tempo que a gente passa diante do computador e ninguém está exausto por isso. Estamos exaustos (até por causa do computador), mas não por causa da tela.
É uma boa máquina de ler. Como o livro.
Botei um livrinho lá. O meu. Tenho o pdf, eu diagramei.
E li. E fui lendo. E a tela fica parecendo uma página de papel. Li igual. Estava lendo um livro. Sem tirar nem pôr. Com o mesmo prazer (ou o mesmo desprazer de ler o próprio livro). A mesma concentração (ou desconcentração, depende do conteúdo).
A luz é clara? É nada. Até dispensa a lâmpada de cabeceira.
Vai cansar? Vai nada. Nunca passamos diante de um livro o tempo que a gente passa diante do computador e ninguém está exausto por isso. Estamos exaustos (até por causa do computador), mas não por causa da tela.
É uma boa máquina de ler. Como o livro.
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quarta-feira, 21 de novembro de 2012
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Capas que mudam
Ganhei de um bom amigo um livro que fala de livros antigos, papiros, pergaminhos, e os riscos que corriam, principalmente a censura, mas também o fogo nas bibliotecas, a chuva que lavava as letras, as traças insaciáveis. É da Companhia das Letras e o título vem escrito (com R invertido) naquela tinta especial, dourada, que sai nos dedos. Ando com ele pra cá e pra lá e, no meu volume, o título já não se lê todo, em parte se adivinha.
Como nos textos antigos.
Não creio ter sido a intenção do capista, mas faz sentido.
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Como nos textos antigos.
Não creio ter sido a intenção do capista, mas faz sentido.
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terça-feira, 6 de novembro de 2012
Sempre mudando
Me interessa menos a piada do que a mudança de comportamento.
Na internet se invertem as piadas machistas (velhíssimas) e invertidas parece que elas não ofendem.
Na versão original dessa aí embaixo, um caipira era derrubado uma vez pelo burro na chuva e dizia "primeira vez". Novo tombo e “segunda vez”. Na terceira, matava o burro com um tiro. Quando chegava em casa a mulher reclamava da demora e ele dizia: "primeira vez".
Já vi invertida também a da geladeira e da cama.
Na internet se invertem as piadas machistas (velhíssimas) e invertidas parece que elas não ofendem.
Na versão original dessa aí embaixo, um caipira era derrubado uma vez pelo burro na chuva e dizia "primeira vez". Novo tombo e “segunda vez”. Na terceira, matava o burro com um tiro. Quando chegava em casa a mulher reclamava da demora e ele dizia: "primeira vez".
Já vi invertida também a da geladeira e da cama.
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segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Hora de verão
As mudanças do tempo são paulatinas. Como o próprio tempo.
Antes dos relógios, o momento de acordar vinha com o primeiro raio de
sol que iluminava a cama. Desde o inverno, a cada dia um pouco mais cedo. Passo
a passo.
Agora a mudança é uma hora de uma vez só. De sopetão.
“Como é bom o horário de verão. O trabalho já acabou e o sol
ainda está lá.”
Até é verdade, quando se olha de uma ponta. Visto da outra
ponta, de quem acorda na madruga, quando estava pra chegar o momento de acordar
na luz, adiantam o dia e fazem o despertador gritar de noite novamente.
E aquela gente que pula cedo, que abre os negócios, que limpa as salas, que vai
de ônibus, sai no escuro com todo o sono e a insegurança que vêm junto com a
hora a menos.
Mas se economiza energia. Elétrica. E a tarde das compras fica mais bonita. É o que importa. Afinal
quem decide adiantar os ponteiros não vive a mudança brusca. Acorda no frescor
da nova manhã e pode, sem que nenhum chefe puna, atrasar o início do trabalho nas primeiras
semanas, enquanto se acostuma. Paulatinamente.
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terça-feira, 2 de outubro de 2012
É pique é pique
Diz-que o Pique Pique foi criado por uns boêmios da Faculdade de Direito do São Francisco. Alguns discordam, mas não vejo razão pra disputar a autoria daquele horror. É uma cantoria arrastada, não tem ritmo e as pessoas (adultos!) ficam batendo palmas, tentando empurrar aquele bonde que não vai! Toda vez que acaba o Parabéns a Você, fico torcendo pra que ninguém se lembre daquilo e se evite a tortura.
Recentemente teve briga pela autoria do "ai se eu te pego". Três moças se diziam as compositoras e alguém escreveu (o Zé Simão?): "mas precisa de três pra compor aquilo?"
Outro caso é bem mais antigo. O Antonio Maria, quando disseram que "Ninguém Me Ama" era plágio, mandou: "mas bem essa porcaria! eu tenho tanta música melhor!"
"Ninguém me ama / ninguém me quer / ninguém me chama de Baudelaire" cantava o engraçadíssimo compositor.
Se é verdade que foi na São Francisco que nasceu o Pique Pique, trata-se de uma das piores contribuições das arcadas para a humanidade.
Origem do PIQUE PIQUE
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Recentemente teve briga pela autoria do "ai se eu te pego". Três moças se diziam as compositoras e alguém escreveu (o Zé Simão?): "mas precisa de três pra compor aquilo?"
Outro caso é bem mais antigo. O Antonio Maria, quando disseram que "Ninguém Me Ama" era plágio, mandou: "mas bem essa porcaria! eu tenho tanta música melhor!"
"Ninguém me ama / ninguém me quer / ninguém me chama de Baudelaire" cantava o engraçadíssimo compositor.
Se é verdade que foi na São Francisco que nasceu o Pique Pique, trata-se de uma das piores contribuições das arcadas para a humanidade.
Origem do PIQUE PIQUE
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domingo, 30 de setembro de 2012
Palavra nova inevitável
Despostar
Datação
sXXI cf. MRF
Acepções
■ verbo
transitivo direto
1 pegar de volta, evitar a publicação
Ex.: [postei um xingamento no facebook, pensei melhor e DESPOSTEI]
transitivo direto
2 arrepender-se por medo da má publicidade
Ex.: [ofendi meu chefe no facebook, mas precisava do emprego e DESPOSTEI]
Etimologia
do internetês: a hipótese melhor aceita data o uso no ano do nascimento do FaceBook. Segundo historiadores, no correio das cartas em papel era impossível, pois o buraquinho da caixa era pequeno, e no e-mail também, embora muitas vezes desse vontade.
Sinônimos
na acp. 1: ajuizar-se
na acp. 2: fugir (do pau)
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quinta-feira, 13 de setembro de 2012
A base
No início me incomodou um pouco a última estrofe, que servia de chave pra compreender as outras.
Besteira total! "presta a atenção com o coração antes de criticar, menino"
É um lindo conto da crueldade do macho branco. Tudo é bonito: as
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Besteira total! "presta a atenção com o coração antes de criticar, menino"
É um lindo conto da crueldade do macho branco. Tudo é bonito: as
vozes, o violão, a melodia, a letra, o assobio.
E o surdo... bem, o surdo é a base de tudo.
E o surdo... bem, o surdo é a base de tudo.
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quarta-feira, 5 de setembro de 2012
De novo
Numa pesquisa sobre o passado do meu bisavô, imigrante italiano bem sorrateiro, me disseram pra procurar no arquivo de uma polícia, que o governo Getúlio teria cadastrado todos os estrangeiros.
Um mês depois voltei pra pegar o documento e o funcionário do balcão me perguntou se eu já tinha pedido de novo.
- Como assim, de novo?
Ele riu e explicou.
- O funcionário do arquivo é velhinho. Está cansado de providenciar documentos que depois ficam aí largados, que ninguém vem buscar. Então ele só faz a pesquisa se o interessado pedir duas vezes! se pedir de novo!
Faz sentido.
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Um mês depois voltei pra pegar o documento e o funcionário do balcão me perguntou se eu já tinha pedido de novo.
- Como assim, de novo?
Ele riu e explicou.
- O funcionário do arquivo é velhinho. Está cansado de providenciar documentos que depois ficam aí largados, que ninguém vem buscar. Então ele só faz a pesquisa se o interessado pedir duas vezes! se pedir de novo!
Faz sentido.
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quinta-feira, 30 de agosto de 2012
De novo a dívida com o compositor
Estou sempre falando de canções.
É que é a expressão maior do nosso melhor jeito.
Daquele nosso jeito brasileiro de que tanto gosto (feicebuquianos, peço que me poupem de tanta crítica rasteira ao país, coisas como “só no Brasil mesmo” e “povo que tem cultura é que é bom, não como no Brasil” só me fazem excluir falsos amigos, um dos maiores prazeres do software internacional).
Depois de ouvir 73 vezes o disco “40 anos depois” do João Bosco, volto-me de vez para “Caça à Raposa” (como canta esse cara!)
Como em outro tempo de tortura profissional diária, infligida por formidáveis chefes algozes, os versos “deixei a fatia mais doce da vida / na mesa dos homens de vida vazia” enchiam minhas manhãs de congestionamento com cantares de liberdade, agora são esses que me socorrem:
AH RECOMEÇAR RECOMEÇAR
COMO CANÇÕES E EPIDEMIAS
Grato Aldir Blanc, grato João Bosco, recomecem sempre que a gente recomeça também.
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É que é a expressão maior do nosso melhor jeito.
Daquele nosso jeito brasileiro de que tanto gosto (feicebuquianos, peço que me poupem de tanta crítica rasteira ao país, coisas como “só no Brasil mesmo” e “povo que tem cultura é que é bom, não como no Brasil” só me fazem excluir falsos amigos, um dos maiores prazeres do software internacional).
Depois de ouvir 73 vezes o disco “40 anos depois” do João Bosco, volto-me de vez para “Caça à Raposa” (como canta esse cara!)
Como em outro tempo de tortura profissional diária, infligida por formidáveis chefes algozes, os versos “deixei a fatia mais doce da vida / na mesa dos homens de vida vazia” enchiam minhas manhãs de congestionamento com cantares de liberdade, agora são esses que me socorrem:
AH RECOMEÇAR RECOMEÇAR
COMO CANÇÕES E EPIDEMIAS
Grato Aldir Blanc, grato João Bosco, recomecem sempre que a gente recomeça também.
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quarta-feira, 8 de agosto de 2012
terça-feira, 31 de julho de 2012
Quitinete, isso sim.
Ah, os nomes!
Um apartamento de trinta e poucos metros era uma quitinete. Agora é estúdio. Mudou. Menos pelo moleque, que continua fazendo o dever de casa em cima da televisão. Ainda bem que não tem mais aquela antena em "V"? Ainda tem, sim. Tem que driblar sem esbarrar pra não embaralhar a imagem.
E não adianta ficar botando prateleiras em toda parede e portas de correr que comunicam cômodos separados à noite, pra hora do amor abafado.
Casa de tamanho certo é a que tem lugar pras coisas que a gente não sabe onde pôr.
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Um apartamento de trinta e poucos metros era uma quitinete. Agora é estúdio. Mudou. Menos pelo moleque, que continua fazendo o dever de casa em cima da televisão. Ainda bem que não tem mais aquela antena em "V"? Ainda tem, sim. Tem que driblar sem esbarrar pra não embaralhar a imagem.
E não adianta ficar botando prateleiras em toda parede e portas de correr que comunicam cômodos separados à noite, pra hora do amor abafado.
Casa de tamanho certo é a que tem lugar pras coisas que a gente não sabe onde pôr.
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segunda-feira, 16 de julho de 2012
Retratos de kodak
A técnica da fotografia é simples, de poucos truques: abertura, velocidade, foco, profundidade de foco, sensibilidade do filme (que coisa velha!). Muitos deles completamente esquecidos pelos donos de câmaras automáticas.
Mesmo para a "kodak" mais "caixão" (assim se chamava a câmara de lente fixa, que não permitia nenhum ajuste) estipulou-se uma regra rígida: "nunca bata a chapa de frente pro sol!"
Kurosawa dizia que a primeira vez no cinema em que se apontou uma lente direto pro sol foi em um de seus filmes (será Dodes´ka-den?). E o velho Akira fazia questão de ressaltar que não tinha sido ideia sua, mas de seu diretor de fotografia, um herege maravilhoso.
Mas nos piqueniques, como o fotógrafo obediente às regras ficava de costas pro sol, o fotografado ficava de frente pro astro-rei e toda uma geração foi retratada com aquela carinha enrugada e olhos apertados.
Ou de óculos escuros. Mas aí ficavam feios.
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Mesmo para a "kodak" mais "caixão" (assim se chamava a câmara de lente fixa, que não permitia nenhum ajuste) estipulou-se uma regra rígida: "nunca bata a chapa de frente pro sol!"
Kurosawa dizia que a primeira vez no cinema em que se apontou uma lente direto pro sol foi em um de seus filmes (será Dodes´ka-den?). E o velho Akira fazia questão de ressaltar que não tinha sido ideia sua, mas de seu diretor de fotografia, um herege maravilhoso.
Mas nos piqueniques, como o fotógrafo obediente às regras ficava de costas pro sol, o fotografado ficava de frente pro astro-rei e toda uma geração foi retratada com aquela carinha enrugada e olhos apertados.
Ou de óculos escuros. Mas aí ficavam feios.
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sexta-feira, 22 de junho de 2012
Vitória em meio de campeonato
Ser corintiano é estar campeão a cada vitória!
Mal o timão ganha uma partida, no meio da comemoração, algo exagerada, tenho que concordar, mas necessária e suficiente, sempre vem alguém: "vocês não vão ganhar o campeonato".
Ara, esse negócio de campeão ou vice nesse momento é como arrancar o primeiro beijo e já ficar com medo do divórcio. É coisa fora de tempo.
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Mal o timão ganha uma partida, no meio da comemoração, algo exagerada, tenho que concordar, mas necessária e suficiente, sempre vem alguém: "vocês não vão ganhar o campeonato".
Ara, esse negócio de campeão ou vice nesse momento é como arrancar o primeiro beijo e já ficar com medo do divórcio. É coisa fora de tempo.
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segunda-feira, 11 de junho de 2012
Livros, books e canções
Song-book é sempre um cozidão arriscado. Mistura artistas em interpretações muitas vezes excessivas de clássicos. Intérprete
gosta de botar a marca. Clássicos são refratários. “Pára com essa firula e
canta direito, menino”.
O do Caymmi-pai não é completa exceção a essa regra. Tem
muitas maravilhas de interpretação e uma ou outra peraltice irritante de cantor,
que a gente releva, pois as canções são do Dorival e não é preciso dizer mais
nada.
É um baú de pérolas.
Já o título “Song-book de Dorival Caymmi” seria muito melhor
se fosse “O Livro das Canções de Dorival Caymmi”. Muito mais sonoro e coerente.
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segunda-feira, 14 de maio de 2012
Os invasores
Um artista inglês (veja aqui) pôs no CCBB em São Paulo um monte de esculturas de homens nus em tamanho natural. Nas posições as mais diversas - pendurados, caídos, encolhidos, esticados - todas têm algo como uns botões no corpo.
Também espalhou nas quinas dos prédios dos arredores outras semelhantes, mas em pé, retas e dignas.
Muito instigantes pra quem olha lá debaixo, quando as vi nos edifícios, antes de saber do museu, me pareceram seres que nos olhavam de cima, vindos de outra galáxia. Uma espécie de "Os invasores", embora de longe não desse pra ver se os dedinhos eram tortos.
Perguntando pras pessoas aqui e ali, soube que a maioria, na primeira vez que viu, pensou ser alguém prestes a se suicidar.
Impressão popular nada lisonjeira pra cidade.
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Também espalhou nas quinas dos prédios dos arredores outras semelhantes, mas em pé, retas e dignas.
Muito instigantes pra quem olha lá debaixo, quando as vi nos edifícios, antes de saber do museu, me pareceram seres que nos olhavam de cima, vindos de outra galáxia. Uma espécie de "Os invasores", embora de longe não desse pra ver se os dedinhos eram tortos.
Perguntando pras pessoas aqui e ali, soube que a maioria, na primeira vez que viu, pensou ser alguém prestes a se suicidar.
Impressão popular nada lisonjeira pra cidade.
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sexta-feira, 11 de maio de 2012
terça-feira, 8 de maio de 2012
Vícios de diplomados
Os médicos acham que são deuses, os economistas acham que têm alguma influência no mundo, os arquitetos acham que são donos do bom gosto, os publicitários falam da sua profissão na frente das crianças, os jornalistas acham que verdade é o que o dono do jornal quer, os engenheiros acham que basta fazer as contas direito, os advogados acham que verdade real é só uma exceção e por aí vai.
Diploma é coisa muito perigosa.
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quarta-feira, 4 de abril de 2012
Adoniran
Antes de mais nada, é um dos maiores letristas da Música Popular, o que no Brasil não quer dizer pouco.
Mas algumas análises sobre a obra do Rubinato incomodam.
Identificar Édipo em "Trem das Onze" é tão tolo, que basta dizer isso. "Trem das Onze" é uma das canções que mais brasileiros sabem de cor. Em qualquer lugar que você esteja, todo mundo canta. Ara, quem não tem momentos de amor prejudicados pelas obrigações do dia-a-dia?
Há outra análise, menos estreita, que também não compartilho: de que há legalismo no Adoniran.
O conformismo que às vezes vemos nos muitos personagens que ele cria não é legalismo, mas um certo realismo. Assim como o desprovido tem que se conformar com o raio que cai na sua casa em noite de tempestade, ele também se conforma com a pata cruel do estado e da sociedade que derruba seu barraco.
"oh oh oh oh oh meu senhor / é uma ordem superior" (*)
A relativização do direito de propriedade é recente e ainda insuficiente. A injustiça da ordem superior, baseada em conceito estreito de propriedade, é raio estatal que destrói a vida do desprovido.
Na definitiva "Saudosa Maloca", esse realismo é mostrado pela composição dos três personagens. Nela sim tem um legalista, simplista, "os home ta com a razão"; mas tem também um revolucionário, que quer gritar; e um religioso, que é a última palavra, "Deus dá o frio conforme o cobertor". E, nessa última palavra de fé, está a grande construção do realismo do Adoniran: pra maioria dos ferrados a religião é só o que resta.
João Rubinato não faz a música do "dever ser", mas a do "ser". Nos nossos dias, talvez Adoniran contasse sobre os movimentos sociais que existem e obtêm avanços. Seria bom tê-lo hoje como compositor.
(**)
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(*) Despejo na favela
(**) João Rubinato é o nome de Adoniran Barbosa. Uso pra evitar a repetição, truque estreito de escrevinhador barato.
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Mas algumas análises sobre a obra do Rubinato incomodam.
Identificar Édipo em "Trem das Onze" é tão tolo, que basta dizer isso. "Trem das Onze" é uma das canções que mais brasileiros sabem de cor. Em qualquer lugar que você esteja, todo mundo canta. Ara, quem não tem momentos de amor prejudicados pelas obrigações do dia-a-dia?
Há outra análise, menos estreita, que também não compartilho: de que há legalismo no Adoniran.
O conformismo que às vezes vemos nos muitos personagens que ele cria não é legalismo, mas um certo realismo. Assim como o desprovido tem que se conformar com o raio que cai na sua casa em noite de tempestade, ele também se conforma com a pata cruel do estado e da sociedade que derruba seu barraco.
"oh oh oh oh oh meu senhor / é uma ordem superior" (*)
A relativização do direito de propriedade é recente e ainda insuficiente. A injustiça da ordem superior, baseada em conceito estreito de propriedade, é raio estatal que destrói a vida do desprovido.
Na definitiva "Saudosa Maloca", esse realismo é mostrado pela composição dos três personagens. Nela sim tem um legalista, simplista, "os home ta com a razão"; mas tem também um revolucionário, que quer gritar; e um religioso, que é a última palavra, "Deus dá o frio conforme o cobertor". E, nessa última palavra de fé, está a grande construção do realismo do Adoniran: pra maioria dos ferrados a religião é só o que resta.
João Rubinato não faz a música do "dever ser", mas a do "ser". Nos nossos dias, talvez Adoniran contasse sobre os movimentos sociais que existem e obtêm avanços. Seria bom tê-lo hoje como compositor.
(**)
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(*) Despejo na favela
(**) João Rubinato é o nome de Adoniran Barbosa. Uso pra evitar a repetição, truque estreito de escrevinhador barato.
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quarta-feira, 21 de março de 2012
Acessibilidade
Dia desses, comparando um original com sua versão publicada, vi que tinham cortado (todos, senhor editor?) os parágrafos de uma linha.
Parágrafo de uma linha serve de corrimão.
Comprido.
Claro que os textos fluidos (há quem os prefira e quem não) são rampas suaves, mas outros são de parágrafos degraus, mais ou menos altos, e os escalam pernas mais ou menos fortes.
É truque bom esse do corrimão. Provê acessibilidade.
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Parágrafo de uma linha serve de corrimão.
Comprido.
Claro que os textos fluidos (há quem os prefira e quem não) são rampas suaves, mas outros são de parágrafos degraus, mais ou menos altos, e os escalam pernas mais ou menos fortes.
É truque bom esse do corrimão. Provê acessibilidade.
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segunda-feira, 12 de março de 2012
Pra que servem as certezas
Acho que ela tinha uns 16:
"Meu gato sumiu.
Minha mãe disse que de duas uma: ou ele foi atropelado e morreu; ou alguém roubou ele, que é bonitinho.
Mas eu tenho ceeerteeeeza que alguém roubou."
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"Meu gato sumiu.
Minha mãe disse que de duas uma: ou ele foi atropelado e morreu; ou alguém roubou ele, que é bonitinho.
Mas eu tenho ceeerteeeeza que alguém roubou."
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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Mãezona, mas educadora
Diz que a galinha cerca os pintinhos do máximo de mimos e cuidados. Não é verdade. Ou é meia-verdade, que padece do mal de ser meia-mentira.
Na idade de cobrir com as asas, contra o frio e a chuva, claro que ela cobre. Mas depois ela segue como se estivesse sozinha, faz o que tem que fazer, cisca, pega os vermes e as pedrinhas pra moela. E daí, virou-e-mexeu, os pequeninos ficam lá atrás, no mundo da lua, até que notam a distância e disparam até ela.
"Pééééra, mãe!"
É a educação pelo exemplo.
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Na idade de cobrir com as asas, contra o frio e a chuva, claro que ela cobre. Mas depois ela segue como se estivesse sozinha, faz o que tem que fazer, cisca, pega os vermes e as pedrinhas pra moela. E daí, virou-e-mexeu, os pequeninos ficam lá atrás, no mundo da lua, até que notam a distância e disparam até ela.
"Pééééra, mãe!"
É a educação pelo exemplo.
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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
O mundo dos sonhos (*)
Exceto quando mata a saudade daqueles que de outra forma não vemos mais, quase nunca o sonho é prazeroso.
Pelo menos os meus, sonho tem mania de ser confuso, muito além do limite da folia: começa com uma coisa boa e a interrompe na hora h; mistura situações absurdas; ou nos põe em enrascadas, pelados no lugar errado.
Quase nunca tem o sabor do doce xará, mas ainda assim dizemos coisas como um “sonho de liberdade”, "a casa dos sonhos", “sonho de valsa”.
Pouco importa se, depois da liberdade, vem uma situação de sinuca, ou se as torneiras da casa vertem o que não devem, ou se pisamos no pé da moça. Todas as expressões em que aparece são positivas. Pra falar do negativo não se usa "sonho", a regra; mas o primo mau "pesadelo", a exceção.
É que sonho é esperança, imprevisível como poucas vezes a vida é. Como nele tudo pode acontecer, das formas mais mirabolantes, a felicidade sempre tem uma chance.
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(*) Pra Luciana Garbellini
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Pelo menos os meus, sonho tem mania de ser confuso, muito além do limite da folia: começa com uma coisa boa e a interrompe na hora h; mistura situações absurdas; ou nos põe em enrascadas, pelados no lugar errado.
Quase nunca tem o sabor do doce xará, mas ainda assim dizemos coisas como um “sonho de liberdade”, "a casa dos sonhos", “sonho de valsa”.
Pouco importa se, depois da liberdade, vem uma situação de sinuca, ou se as torneiras da casa vertem o que não devem, ou se pisamos no pé da moça. Todas as expressões em que aparece são positivas. Pra falar do negativo não se usa "sonho", a regra; mas o primo mau "pesadelo", a exceção.
É que sonho é esperança, imprevisível como poucas vezes a vida é. Como nele tudo pode acontecer, das formas mais mirabolantes, a felicidade sempre tem uma chance.
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(*) Pra Luciana Garbellini
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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
A primeira manhã do construtor
Esse é o Edifício Martinelli em São Paulo. O colosso da época, dele vê-se até o Pico do Jaraguá.
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Diz que o Conde de mesmo nome fez a própria casa no topo do Martinelli pra provar que não era perigoso ficar no arranha-céu, pioneiro em São Paulo.
Na primeira manhã em que acordou na casa nova, encostou-se no parapeito de camisolão libertário, olhou aquela imensidão toda, balançou a cabeça com um bico de duce e mandou:
- Cazzo! ma que prédio "arrrto" que fiz!
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(*) foto da internet, não sei de quem é
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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
O consertador das sintetizadoras
Bom encontrar o Celso.
Desde os 12, faz 54, conserta corpos e lentes das câmaras
fotográficas. Começou com o pai. Hoje já cuida das digitais, “só as profissionais”, mas ainda as pensa
piores. Bem piores. Não têm profundidade de campo, os grãos são muito grandes e morrem cedo.
“Os 20 anos das antigas, nem pensar.”
A oficina é muito pequena. Olha as lentes com
lentes.
As lentes reduzem o mar, a montanha, a planície, a mulher
bonita, pra caberem nos negativos e agora nos sensores. E, quando essas grandes
redutoras adoecem, deixam por um tempo o mundo vasto e vão se encolher no quartinho e nas
mãos do Celso.
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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Duas das coisas que me irritam
Quando peço tônica e alguém diz: "não tenho, serve soda?"
Quando falo do Dori Caymmi e vem: "prefiro Danilo (ou Nana)".
Ara!
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Quando falo do Dori Caymmi e vem: "prefiro Danilo (ou Nana)".
Ara!
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