sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Hora de trem e de afeto

Talvez por ter sido concessão dos ingleses, na Rede Ferroviária Federal os horários de trem eram quebrados. Se um partisse de Jundiaí às 8 horas, passaria em Campo Limpo Paulista 8:23 e era esse horário exato, não arredondado, o divulgado aos passageiros.

Quando conheci a estrada de ferro, já obsoleta, o comboio atrasava muito e o tal do subúrbio (assim se chamava o trem que não era expresso) passava às 9 e meia, sem cerimônia, "está encostando na plataforma, com destino a São Paulo, o trem das 8:23". Muitos riam.

Os brasileiros temos a fama de atrasados, o que não é verdade para todos. Na minha cidade, pelo menos as pessoas da geração anterior à minha não tinham ainda esse hábito, moderno e displicente, de se fazer esperar.

Emília e Irmes iam sempre juntas ao cemitério. Irmes combinava de pegar a cunhada com seu fusca, na esquina da sua rua com a avenida, às 15 pras 8. Passava às 7 e meia, "senão ela fica lá de pé esperando".

A outra já estava lá desde as 7 e 15, "se eu não estiver lá, onde ela vai parar?".

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