sábado, 17 de maio de 2008

Escondidos nas supermáquinas

A televisão americana produziu e produz muitas séries interessantes. Bem escritas, divertidas, ótimos atores, ótima luz, ótimo ritmo, esse gênero da televisão deles é (dezenas de vezes) melhor do que a nossa auto-adulada produção.

Mas também existem péssimas e uma das piores era a supermáquina.

Era um carro idiota que andava sozinho ou guiado por um rapaz que não precisava de capacete, pois seu penteado esférico já cumpria a função. Como os inimigos não podiam saber se havia ou não motorista ao volante, os vidros tinham que ser escuros para quem olhava de fora.

Preta na pintura e nos vidros, a supermáquina era ridícula e implacável.

Exatamente como os carros com insulfilmes que circulam agora. Há um limite legal para a opacidade dos vidros, mas ninguém o observa e acho que ninguém multa, já que continuam completamente negros.

Pedestres nunca sabem se os motoristas (que deve haver lá dentro) os estão vendo. Os guardas do trânsito não sabem se o que guia está tagarelando no celular. A polícia nem sabe se há um passageiro amordaçado e amarrado por um seqüestro.

Não se pode mais pedir a vez, nem agradecer uma gentileza, nem perguntar um caminho, pois ninguém é idiota para falar com um carro que anda sozinho.

A única vantagem é que ninguém briga com um motorista inexistente.

domingo, 4 de maio de 2008

Proposta de bandeira



Quem há de negar que tirar o amarelo é bom?: (quem pintou a bandeira brasileira / que tinha tanto lápis de cor) (*)

O ordem e progresso ninguém agüenta. Nem a faixa branca.

A estrelinha azul no verde bota uma dúvida entre floresta e mar:
um pequenino grão de areia / que era um pobre sonhador / olhando o céu viu uma estrela / e imaginou coisas de amor [...] se houve ou se não houve / alguma coisa entre eles dois / ninguém soube até hoje explicar, / o que há de verdade / é que depois, muito depois, / apareceu a estrela do mar. (**)

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(*) Almanaque de Chico Buarque
(**) Estrela do Mar de Marino Pinto e Paulo Soledade

sábado, 3 de maio de 2008

Sofre antecipado

Meu pai dizia que quem sofre por antecipação sofre duas vezes.

Discordo em parte (e isso é raro). Um pouco mais otimista, quem sofre antecipado sofre uma vez a mais: sofre duas vezes se, de fato, sofrer depois; mas sofre uma única vez, se a sorte lhe sorrir.

Quando, aos 18, peguei pela primeira vez a bandeja do refeitório da faculdade, logo agourei: "quando será que vou derrubar esse negócio?"

Tenho hoje 48 e só a derrubei na semana passada.

Trinta anos depois.

Ave Dorival Feliciani.