Antes do tempo do eu-menino (que não conto quando foi), o medo de incomodar era o mínimo que os educados deviam ter. Mesmo os pequeninos. Eram muitas as antigas histórias de crianças "pidonas" e os assustadores castigos que tinham sofrido.
Sobrou um pouco desse excesso de dedos pra minha infância, tanto que, antes de aceitar uma guloseima qualquer, ainda que preparada pela tia querida, eu esperava que a oferta fosse feita três vezes.
No terceiro "pega!" ficava claro: aquele doce não ia fazer falta pro dono e quem insistia três vezes queria no duro que a gente aceitasse! Deixei de comer muito doce gostoso por desistência dos adultos mais impacientes ou mal informados das regras de etiqueta caipira.
O medo de incomodar também impedia que dormíssemos nas casas dos amigos ou que nossos pais usassem, a menos das urgências graves, o telefone do único vizinho que era conectado pela Telesp.
E vinha desse medo uma expressão deliciosa.
Mesmo depois de uma visita muito agradável à casa de um camarada, em que todos tinham trocado um caminhão de afetos e sorrisos, aquele que ia embora disparava a escusa coringa:
- Desculpa qualquer coisa.
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