Tem sempre alguém reclamando das novidades tecnológicas até que elas envelheçam, tornem-se nostálgicas como uma foto em preto e branco, e todos as amem. Imagino ter sido assim com o nascimento do rádio, invenção que guinou o nosso tempo, junto com a máquina a vapor, exemplo de uma energia que vira outra e viabiliza desde a refrigeração até as ondas que invadiram a privacidade excessiva das casas de antes.
O MP3 me trouxe de volta o hábito de ouvir canções no carro. Hábito que andava abandonado, como o de escrever cartas, até que o e-mail despertasse o missivista. Exceto pela correspondência com um único camarada, que durou até que sua máquina de escrever, mecânica, quebrou, não colava selos pra mais ninguém. Parece que consertou a remington, mas não tem me escrito mesmo assim. Melhor nem saber por quê.
Mas, voltando ao MP3, por conta dele gasto os hiatos dos semáforos cantando velhas canções. Aos brados. Todos somos ridículos na cidade grande.
Num dia de vermelho com "Boca da noite", um desses homens que pedem nas ruas se aproximou e aumentei o volume pra chamar sua atenção. "O vento vai pra onde quer / A água corre pro mar / Nuvem alta em mão de vento / É o jeito da água voltar".
- Ah, você é veterano, me disse.
Éramos e sorrimos um pro outro.
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