segunda-feira, 25 de julho de 2011

João Bosco, um guri legal

Evito falar do que acabou de aparecer. Por isso, guardei esses comentários sobre o "Não vou pro céu, mas já não vivo no chão", que já tem uns anos e não teve o carinho que merece.

Como foi subamado, cabe agora defender o disco.

O João é um cara legal. Tem cara de violonista de república de estudante, meio moleque, meio pinguço. Você o vê, ele ri e toca seu som, que parece que só tem notas e ritmo.

Não que seja um letrista ruim. O “Na Onda que Balança tem boas letras dele próprio, mas tenho certeza que prefere fazer sua música, que não acaba quando compõe. Acaba no palco, junto com o violão, com a voz de percussão e aquela capacidade de lembrar letras impossíveis de se decorar e cantar sem gaguejar.

Pro João a música está sempre sendo composta.

Tem um filho que dizem que segurou o pai nesse "Não vou pro céu...". Brecou o pai dos excessos. "Pra valorizar suas grandes melodias", teria dito Francisco Bosco.

Sei não se é excesso, mas também ficou bom sem o dito excesso.

Francisco faz bonito nas letras. Algumas ótimas. E tem as do Aldir. Seja bem vindo. Bem retornado.

“Neguinho me vendo em quixeramobim / e eu andando de elefante em Bombaim”.

Quixeramobim e Bombaim! O resto nem interessa. Interessa Quixeramobim e Bombaim. Assim é feito o Aldir, com palavras que vão colar na música e na voz do João, que vai compô-las e recompô-las muitas vezes.

Assim é o João.

Só quem viu, tava no youtube e saiu, pode saber o que foi o Yamandu tocando Linha de Passe com o Bosco. É uma dessas músicas em que a letra parece só estar lá pra fazer o batuque na voz do João. “Naco de tatu lingüiça e paio e belzebu...”. E o Yamandu, exuberante, e o João tocando e a voz e o Yamandu correndo atrás e depois na frente e os dois naquela molecagem. “Cachaça com angu / rabo de saia ... e bolo de fubá barriga dágua. A letra (que tem que ser dura nas outras sílabas) quando tem que ser mole, quando tem que esticar, o João diz sssaaaiiiaa... dáaaagua...

Vai assim até que o Yamandu, que nem tem cara de sambista, dispara num crescendo que não se acompanha e o João pára de tocar e olha pro rapaz e diz “vai guri, fala guri, dá-lhe guri, vai guriiii”.

Breque. Pula agora do Youtube de volta pro disco.

Em Tanajura, uma das canções com letra do Francisco de "Não vou pro céu...", tem um "eu bobo, babo e caio" . Quando escreveu esse, o filho, que diz-que conteve o excesso do pai, se soltou, riu e pensou:

"esse verso só o maluco do velho vai saber cantar"

Seja o filho bom letrista, que fala na Tanajura, seja o garoto grande instrumentista, que arrebenta na Linha de Passe, os guris vão sempre saber falar empurrados por ele, porque o João sabe de guri. O João nunca deixou de ser guri. Ave João, ave guri.

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