segunda-feira, 21 de março de 2011

Quando o entusiasmo não dura

Faz um tempo já, saiu um disco em homenagem ao Adoniran: "Dá licença de contar".

Vi nas notícias que Chico cantava. Entusiasmo! claro que é exagero, mas esse moço Buarque tem ligação direta com o coração de quem ouve música brasileira. Já o imaginei cantando, com a sensibilidade que um compositor reserva para o outro, lindamente, apesar da infinidade de opiniões contrárias:

oh oh oh oh oh, meu senhor, é uma ordem superior;

ou

procurei na central
procurei no hospital
e no xadrez
[...]
"pode apagar o fogo, mané, eu não volto mais"
;

ou

Eu não vou pedir, mas se você quiser me dar
Aquele beijo, ao qual eu faço jus
[...]
"boa noite, zé, té manhã se deus quiser".
Tá tudo legal


ou

"Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
Os homis tá cá razão
Nóis arranja outro lugar
Só se conformemo quando o Joca falou:
"Deus dá o frio conforme o cobertor"


Os três mosqueteiros da desventura de "Saudosa maloca" (*) tratados com o cuidado com que foi cantado o abandonado no baile de "Sem compromisso", do Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro! Um sonho dourado!

Mas foi entusiasmo que durou pouco. Gravou "Bom dia, tristeza", uma letra derramada e sem importância, desconectada da obra maior do Adoniran. Se era pra homenagear o Vinícius, que declinasse do convite.

Nem comprei o disco.

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(*) "Saudosa maloca" é caso raro na MPB. Tem três personagens que representam mais de meia humanidade: Mato-Grosso, que quis gritar, revolucionário; "eu", primeira pessoa, "os homis ta coa razão", legalista; e o Joca, "Deus dá o frio conforme o corbertor", a religião, o refúgio final dos desabrigados sem saída.

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Um comentário:

CassiaM disse...

O Chico já era....