A regra do "se" como partícula apassivadora sempre me pareceu arbitrária.
"Vende-se casas" diz mais como sujeito indeterminado do que como sujeito passivo (vendem-se casas). Quando a gente escreve na primeira forma, quer dizer:
"Alguém tem casas para vender". "Alguém", que não interessa quem, e "casas" que você tem que ver pra saber se interessam.
Na Valsinha, de Chico e Vinícius, era assim:
"... e foram tantos beijos loucos
tantos gritos roucos
como não se ouvia mais
que o mundo compreendeu
e o dia amanheceu
em paz"
Recentemente ouvi uma gravação nova do próprio Chico em que ele "corrigiu" a concordância, por medo de levar ponto negativo:
"... e foram tantos beijos loucos
tantos gritos roucos
como não se ouviam mais"
Pena. Devia deixar como estava. A regra é mera arbitrariedade de gramáticos. Se, quando o verbo é transitivo direto, é de um jeito, porque é de outro, quando é transitivo indireto? Ora, vão pro inferno!
Daí resolvi ampliar a letra, não para melhorá-la, mas pra botar lenha na fogueira. Imaginem se fosse assim:
"... e foram tantos beijos loucos
tantos gritos roucos
de que se precisava
e não se ouviam mais"
Tem cabimento?
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