A regra do "se" como partícula apassivadora sempre me pareceu arbitrária.
"Vende-se casas" diz mais como sujeito indeterminado do que como sujeito passivo (vendem-se casas). Quando a gente escreve na primeira forma, quer dizer:
"Alguém tem casas para vender". "Alguém", que não interessa quem, e "casas" que você tem que ver pra saber se interessam.
Na Valsinha, de Chico e Vinícius, era assim:
"... e foram tantos beijos loucos
tantos gritos roucos
como não se ouvia mais
que o mundo compreendeu
e o dia amanheceu
em paz"
Recentemente ouvi uma gravação nova do próprio Chico em que ele "corrigiu" a concordância, por medo de levar ponto negativo:
"... e foram tantos beijos loucos
tantos gritos roucos
como não se ouviam mais"
Pena. Devia deixar como estava. A regra é mera arbitrariedade de gramáticos. Se, quando o verbo é transitivo direto, é de um jeito, porque é de outro, quando é transitivo indireto? Ora, vão pro inferno!
Daí resolvi ampliar a letra, não para melhorá-la, mas pra botar lenha na fogueira. Imaginem se fosse assim:
"... e foram tantos beijos loucos
tantos gritos roucos
de que se precisava
e não se ouviam mais"
Tem cabimento?
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segunda-feira, 20 de julho de 2009
Esqueça dela
Uma vez eu fui procurar um sítio no interior, num meio do mato cheio de estradinhas, que se cruzavam e serpenteavam.
Perguntei a direção a um homem jovem, que capinava sem camisa, e ele logo acomodou a enxada e me explicou:
"O sítio tal? sei, sim sior. O sior toma essa estrada e, quando encontrar a primeira encruzilhada, o sior não vira. Passa. Esqueça dela. Continua pela mesma estrada, passa a segunda encruzilhada de novo. Esqueça dela também.
É na terceira".
E, em cada "esqueça dela", era um gesto largo com o braço, que empurrava a memória para trás.
Esqueça dela.
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Perguntei a direção a um homem jovem, que capinava sem camisa, e ele logo acomodou a enxada e me explicou:
"O sítio tal? sei, sim sior. O sior toma essa estrada e, quando encontrar a primeira encruzilhada, o sior não vira. Passa. Esqueça dela. Continua pela mesma estrada, passa a segunda encruzilhada de novo. Esqueça dela também.
É na terceira".
E, em cada "esqueça dela", era um gesto largo com o braço, que empurrava a memória para trás.
Esqueça dela.
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terça-feira, 14 de julho de 2009
Castanha e caju
Deixar aqui registrado um acontecido talvez ajude a afastar o esquecimento. Talvez não, já que cada postagem está fadada à classificação de "postagem mais antiga", que a manda lá pros bastidores do blog.
Caju já morreu. Pouco tempo antes, deu uma entrevista em que lhe perguntaram:
"verdade que você chegou perto de São Pedro?"
Ele tirou um boné, mostrou no coco pelado uma cicatriz deste tamanho, em curva de ferradura, e disse:
"operei a cabeça e o médico disse que tirou uma coisa aí de dentro e que eu não ia cantar mais... mas não foi Jesus que disse que eu não ia mais cantar!"
E mandou um daqueles improvisos sensacionais. Deviam mostrar essa gravação nas aulas inaugurais de medicina.
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Caju já morreu. Pouco tempo antes, deu uma entrevista em que lhe perguntaram:
"verdade que você chegou perto de São Pedro?"
Ele tirou um boné, mostrou no coco pelado uma cicatriz deste tamanho, em curva de ferradura, e disse:
"operei a cabeça e o médico disse que tirou uma coisa aí de dentro e que eu não ia cantar mais... mas não foi Jesus que disse que eu não ia mais cantar!"
E mandou um daqueles improvisos sensacionais. Deviam mostrar essa gravação nas aulas inaugurais de medicina.
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sexta-feira, 3 de julho de 2009
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