sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Ave, piratas

Quando eu tinha quinze, desisti do rock. Acho que fiz bem, o rock dizia pouco pro meu jeito de brasileiro interiorano.

A arte universal (exceto em raras e maravilhosas exceções) é como um lago de 15 centímetros de profundidade e muitos quilômetros quadrados de superfície. Um volume imenso de água.

A arte mais ligada a uma determinada cultura tem superfície muito menor, mas vai a centenas de metros de profundidade. Um volume de água bastante inferior, mas, pra quem mergulha nessas águas escuras, de infinitas possibilidades.

Fui pro samba! Este sim, da minha aldeia!

Éramos um grupo de amigos que gostava de músicas semelhantes e, meio pobres, comprávamos os vinis e emprestávamos uns aos outros pra piratarias em k7. Até hoje as tenho, quando tento ouvir quase nunca tocam, as fitas são pouco duráveis como o rock, mas não tenho coragem de jogar fora.

Uma vez um ladrão entrou em nossa casa e levou dezenas de fitas e nenhum vinil. O objetivo era claro: queria a mídia (que valia) e não seu conteúdo (que não valia nada). Uma ofensa.

Era um belo clube aquele dos piratas. Eu, que não jogava bola, tinha poucas diversões e minha mãe se alegrava muito de me ver interessado em ouvir e trocar músicas com os amigos.

Agora a pirataria mudou. Melhorou.

Agora a gente ouve uma música no carro, no caminho do trabalho, e, quando quer compartilhar, grava em MP3 e manda pralgum amigo que pode compreender o entusiasmo que a canção despertou.

E o navio pirata de vento em popa.

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