Sentimento estranho a vergonha.
Além da justa vergonha dos erros que cometemos, ela também se apresenta em situações ilógicas: na constatação de nossa fragilidade; ao sermos vítima da esperteza alheia; e, supra-sumo do culto ao sucesso, diante do testemunho, por vezes íntimo, de nossos sofrimentos pretéritos.
Meus pais foram crianças pobres e adultos um pouco menos.
Nunca se esqueceram, e acho que realimentaram, a vergonha de não terem usado sapatos, ou das antigas roupas remendadas, ou dos pratos pouco nutritivos dos primeiros anos.
Porém nunca pediram.
Mesmo para os que eventualmente saiam dessa situação mais precária, que efeito causará aos futuros adultos terem, na infância, pedido esmolas pelas ruas da cidade?
3 comentários:
Mario
Estou colocando um link do seu blog na Mecânicos de Guarda-chuva, espero que não se importe. Acho que não é preciso dizer que foi seu trabalho o inspirou. Gostamos muito das suas fotografias.
Peço que nos indique um texto seu para postarmos em nosso sarau virtual.
Parabéns e grande abraço
Davi
Acho impossível generalizar e fazer prospecções sobre os efeitos causados à criança que pediu esmolas...
Meu pai viveu na pobreza até no início de sua fase adulta... Não pediu... mas passou fome... muita...
Apesar de pouco estudo, saiu-se bem e conseguiu construir um patrimônio e deixar à família um certo conforto material...
Nunca teve vergonha do passado; ao contrário: usava-o como exemplo de superação...
Eu tenho vergonha do País em que vivo... com impostos de primeiro mundo e serviços de quinto mundo... O País das crianças em semáforos, fazendo malabarismos para nós, palhaços nos carros, que nada fazemos para que haja uma efetiva mudança...
Sharon
Alguns tiram melhor resultado da adversidade do que outros.
mario rui
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