Tenho só 54. Não é pra caracterizar, é pra contextualizar.
Minha primeira experiência com computador foi com cartões
perfurados. Um cartão pra cada frase de programação. Muitas vezes não tinha
tinta, a impressão no rodapé ficava ilegível, e a gente tinha que decifrar o erro
de digitação nos buraquinhos. Mas era poderoso! Matava os trabalhos
repetitivos, nosso sonho.
Passei pelo disquete mole de 8 polegadas (todo um mestrado
está num deles, alguém tem leitora). Pelo de 5e 1/4, pelo de 3 e 1/2 e pelo disco rígido
nem tão rígido: bastava erguer o micro
pra limpar a mesa e ele se desformatava! foi bom, aprendi a importância
de backup.
Passei pela tela verde, pelo AutoCad sem mouse, dei curso de Lotus
123 (o gênio que inventou a planilha, alguém sabe quem é?)
Sou encantado pelo wireless, pelo laptop! não gosto de
ficar, quero andar pela casa. O tablete? bem o tablete é a primeira máquina
civilizada da história da informática: nenhum fio, nenhum periférico, vai pra
cama com você, nem precisa de luz de cabeceira, traz a própria. Um dia
(loguinho claro) todo lugar vai ter sinal rápido e vou ver "e la nave va"
na praia.
Gosto de conversar com as pessoas, só gosto de solidão quando a
quero. No ponto de ônibus, na fila do banco, na sala de espera do médico, no
metrô (quem achou que a gente gosta de andar no buraco?) é bom ter a
possibilidade de "sair dali" e papear com um amigo. Já fazíamos isso
com os amigos de todos, os escritores, por que não fazer também com aqueles que
a gente conhece de perto?
Agora tem PhotoShop, que salva as fotos que o laboratorista destruiu com má revelação. Tem software de editoração pras capas dos livros dos amigos. E tem esse programa (Paper Artist), que torna a foto da gente uma pinturinha como esta. Dá pra brincar de Toulouse Lautrec, não no Moulin Rouge, com vinho, mas no restaurante japonês depois de secar a cerveja.
Tenho só 54 e vi tudo isso.
Se com a tecnologia vem coisa ruim? Claro. Como veio com o
fogo, com a roda, com a máquina a vapor, com o rádio, com a televisão. Tem que
ficar de olho.
Mas é divertido brincar de Toulouse, mesmo sem cancan.
Quando tiver 64 volto com as novidades dos últimos 10 anos.
Serão muitas.
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