Dizem que a crença de que misturar manga com leite é morte certa foi criada para evitar que os escravos, que consumiam muito um dos alimentos, consumissem escondidos também o outro, mais raro e destinado aos senhores. Se era a manga ou o leite o proibido eu não sei, já ouvi as duas versões.
Truque maquiavélico esse de criar uma falsa crença nos pobres pra se esbaldar sozinho nas guloseimas!
Mas há outro. Os da antiga da minha rua, sempre sem dinheiro, diziam que aquele que não paga dívida fica com o nome sujo.
Que expressão cruel: nome sujo!
O nome é um dos orgulhos das pessoas. Um juiz professor de direito me contou uma vez, com olhos marejados, sobre o seu arrependimento por ter seguido a lei com rigor excessivo e não ter dado um sobrenome a um rapaz que não conhecia sua origem. "A gente vê tanta decisão errada, motivada por argumentos injustos. Eu devia ter dado um nome ao menino, mas era muito jovem, cheio das 'leis'".
Em algum momento da nossa história - nem toda tradição é boa - foi criada a expressão nome sujo para apelidar os que devem. Mas a alcunha só pegou nos pobres, assim como a crença nos malefícios da mistura manga com leite.
Nunca se viu rico angustiado por não ter pagado uma ou outra dívida. Deixar pagamentos para depois é parte do dia-a-dia da administração financeira dos que têm dinheiro.
Não pagar contas pode até dificultar o crédito, o que pode ser bom, com os juros criminosos que andam por aí, mas falta de dinheiro e boleto em branco na gaveta não sujam o nome de ninguém.
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