sexta-feira, 30 de abril de 2010

Pra Dona Ermesinda

Eu a perdi não faz muito. Era minha mãe.

Hoje me lembrei dela e pensei no excesso de broncas. Não as dela em mim, justas, afinal eu era filho, mas as minhas nela, invertidas.

Em uma época em que quase não "se passa sabão" (*) nas crianças ("tem que compreender os jovens", "os meninos têm razão", "os erros fazem parte do processo"), em um grande paradoxo, os jovens de 30, 40 ou 50 damos montanhas de pitos nos pais.

Os pais idosos só esperam de nós que falemos dos nossos erros e dos deles do jeito como falamos com os amigos, isentos de julgamentos, de conselhos e, principalmente, de broncas. Esperam que troquemos apenas, que nos relacionemos.

Bronca não é relacionamento, é de mão única.

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(*) Seu moço, quer saber, eu vou contar um baião / Minha história pra o senhor, seu moço, preste atenção

Eu vendia pirulito, arroz doce, mungunzá / Enquanto eu ia vender doce, meus colegas iam estudar / A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar / A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar

E quando era de noitinha, a meninada ia brincar / Vixe, como eu tinha inveja, de ver o Zezinho contar:

- O professor raiou comigo, porque eu não quis estudar
- O professor raiou comigo, porque eu não quis estudar

[...]

(Minha História, João do Vale)


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